10 Economia Empresarial

10.1 A teoria da demanda e da oferta

O foco central da teoria da demanda é a investigação das variáveis que influenciam as decisões dos compradores e dos produtores e sua interação

Antes de desenvolver o assunto é preciso dar uma explicação. Para isolar o efeito de cada variável, os economistas costumam supor que todas as demais variáveis impactantes, sobre a demanda e a oferta, permaneçam constantes naquele período de tempo. Esta hipótese é descrita pela expressão latina ceteris paribus, que significa “tudo mais permanecendo inalterado”

10.1.1 A teoria da demanda

A teoria da demanda se baseia no processo de escolha das pessoas que em geral buscam maximizar sua satisfação despendendo recursos monetários dentro das possibilidades definidas pela sua renda, individual ou familiar, e pelos preços dos produtos

Utilidade Total, Utilidade marginal e preço:

  • Utilidade Total (UT): Define uma relação positiva (prazer) no consumo de bens e serviços.
  • Utilidade Marginal (UMg) Atribui um contrapeso decrescendo em relação ao primeiro consumo a utilidade de cada unidade adicional
  • Preço Relação de troca que atribui a proporção de valor entre consumidor e produtor

Lei da utilidade marginal decrescente:

A utilidade total depende das quantidades consumidas e cresce à medida que o consumo cresce. Mas o acréscimo de satisfação a cada copo adicional é cada vez menor. A utilidade marginal decresce. Se o aumento de satisfação tende a diminuir, o preço máximo que o consumidor pagaria pelo primeiro copo seria maior do que pagaria pelos últimos copos adquiridos.

Tabela:

Variações da utilidade total e marginal:

10.1.1.1 Comportamento da demanda

Uma das hipóteses da teoria da demanda é que todo consumidor é um agente racional: tendo em vista seusdesejos e gostos, e as circunstâncias, ele escolhe o melhor para si. As quantidades consumidas de qualquer bem ou serviço são uma função

Qd = f(P, Pc, Ps, Y)

onde:

  1. Quantidade demandada (Qd)
  2. Preço do próprio bem ou serviço (P): Elemento central na determinação das quantidades adquiridas, segue a lei da demanda.

Lei da demanda: a quantidade demandada diminui se o preço subir e vice-versa, ceteris paribus.

  1. Preços dos bens ou serviços complementares (Pc): Complementares são aqueles que, ao comprarmos um bem/serviço, temos a propensão de comprar o outro também. Em geral a demanda por um bem diminui se o preço de um bem complementar a ele aumentar. E o inverso acontecerá se o preço do bem complementar diminuir

Ex: Vôos e hotéis

  1. Preços dos bens ou serviços substitutos (Ps): Um bem ou serviço é denominado substituto de outro quando o indivíduo tende a trocá-lo pelo outro se houver uma variação relativa de preços

Ex: Carne e frango

  1. Renda individual ou familiar (Y): Em geral, cada pessoa dispõe de um fluxo de recursos monetários regular, sua renda, e pode gastá-la total ou parcialmente na aquisição de uma cesta de bens.

Quando há um aumento real de sua renda, os indivíduos despendem mais em vários bens e serviços. Esses bens e serviços são chamados normais, porque esse é o padrão normal no comportamento das pessoas em relação à maioria dos bens. O inverso também ocorre: quando há queda da renda real, o consumo desses bens se reduz.

No entanto, há situações em que um aumento de seu poder de compra leva o indivíduo a reduzir o consumo de alguns bens e serviços que considera inferiores.

10.1.1.2 As demandas individuais e a demanda de mercado

A curva de demanda mostra, a cada preço, quanto uma pessoa compraria de determinado bem. Para desenhá-la é necessário adotar a hipótese de ceteris paribus, isto é, os demais determinantes da demanda são, provisoriamente, supostos constantes

  • Curva da demanda e excedente do consumidor:

Como a figura mostra, ao preço de 4,00 por unidade o andarilho compraria uma quantidade total dequatro unidades, indicada pelo ponto E sobre a curva de demanda. Estaria em equilíbrio nesse ponto; não compraria mais do que quatro unidades, pois para ele o valor do quinto refrigerante é inferior a 4,00, nem compraria menos, pois valeria a pena pagar apenas R$ 4,00 pelo quarto copo, tendo consumido apenas três anteriormente.

  • Composição da demanda do mercado:

A demanda de mercado é a soma de todas as demandas individuais.

As variações no consumo podem resultar em mudanças, permanentes ou temporárias, nas motivações, desejos, e necessidades dos compradores, desejos e gostos não são sempre fixos e quando mudam deslocam a curva de demanda

10.1.1.3 Os deslocamentos da curva de demanda

As variações nas quantidades demandadas respondem às alterações do próprio preço do bem ou serviço, ceteris paribus, e resultam em movimentos ao longo da mesma curva de demanda. Os deslocamentos da curva de demanda em si decorrem de alterações nas outras variáveis, que não o próprio preço do bem

10.1.2 A teoria da oferta

Tal como na demanda, há vários determinantes que influenciam as quantidades ofertadas no mercado. Aquantidade ofertada (Qo) pode ser representada pela função:

Qo = f (P, PS, Crp, AT)

onde:

  1. Quantidade ofertada (Qo)
  2. Preço do bem ou serviço (P): Mostra a quantidade que os produtores venderiam a cada preço, seguindo a lei da oferta.

Lei da oferta: A quantidade ofertada aumenta ou diminui diretamente com o preço do bem ou serviço.

  1. Preços dos bens ou serviços concorrentes (Ps): A oferta é influenciada pelos preços dos bens e serviços concorrentes. Assim, quando os preços dos bens concorrentes aumentam, há um deslocamento da curva de oferta na direção de menores quantidade, o inverso também ocorre.

  2. Custos dos recursos produtivos ou fatores de produção (Crp): Recursos produtivos ou fatores de produção são todos os elementos necessários para produzir: mão de obra, matérias-primas, insumos, tecnologia, capital físico, financeiro e possivelmente outros elementos. Esses custos influenciam a oferta. Para um mesmo nível de preço, aumentos nos custos reduzem a viabilidade do negócio, desestimulando a produção.

  3. Atualização tecnológica (AT): Toda produção usa certa tecnologia específica, e as atualizações tecnológicas tornam os processos mais eficazes, elevando a produtividade dos recursos usados e reduzindo os custos. Quanto mais acentuadas forem essas atualizações, maiores serão as perspectivas de lucro, desencadeando odeslocamento para direita nas curvas de oferta

10.1.2.1 Os deslocamentos da curva da oferta

Deslocamentos ao longo da curva de oferta resultam de alterações no próprio preço dos bens ou serviços ofertados, ceteris paribus. Deslocamentos da curva de oferta ocorrem devido a alterações nas outras variáveis que influenciam a produção das empresas

10.1.2.2 As ofertas individuais e a de mercado

Cada empresa possui sua curva de oferta, e as quantidades ofertadas variam com o preço, ceteris paribus. Cada empresa do setor contribui para a formação da oferta total daquele produto. A oferta de mercado resulta do somatório das ofertas individuais das empresas produtoras do bem

10.1.3 Equilíbrio de mercado

A demanda e a oferta de qualquer bem ou serviço se equilibram no mercado, onde as quantidades transacionadas e os preços serão determinados pela interação de compradores e vendedores

Um exemplo simples que facilita este entendimento é que para a produção, a medida que se aumenta o preço de um produto, mais quantidades deste produto desejarão produzir, por outro lado, ao aumentar o preço. A demanda diminui, forçando um equilíbrio entre oferta e demanda através das variáveis presentes na teoria da oferta e da demanda, a principal delas é o preço.

Em qualquer dessas situações fora do equilíbrio, ocorrerá uma incompatibilidade no atendimento simultâneo dos desejos de compradores e vendedores

O equilíbrio E representa a coincidência quantitativa dos desejos dos compradores e dos vendedores. É o equilíbrio do mercado, o encontro da oferta e da demanda, e tende a permanecer inalterado se não houver mudanças na demanda ou na oferta. Mas há variáveis que deslocam as curvas de demanda ou de oferta

10.1.3.1 A ação dos compradores e dos vendedores

  • Aumento/Redução da demanda com oferta fixa

Deslocamentos para a direita (esquerda) da curva de demanda, com a curva de oferta inalterada, resultam em maiores (menores) quantidades transacionadas e preços maiores (menores), alterando o equilíbrio de mercado.

  • Aumento/Redução da oferta com demanda fixa

Deslocamentos para a direita (esquerda) da curva de oferta, com a curva de demanda inalterada, resultam em maiores (menores) quantidades transacionadas e preços menores (maiores), alterando o equilíbrio de mercado

10.1.4 Elasticidades: As sensibilidades medidas

Como a receita total das vendas resulta da multiplicação das quantidades adquiridas pelos preços dasmercadorias (R = Q × P), qualquer reação dos consumidores altera o faturamento da empresa. A teoria da demanda desenvolveu medidas para essas reações, chamando-as de elasticidades da demanda. São a resposta das quantidades compradas às oscilações de preços e de outras variáveis explicativas do comportamento dos compradores.

De modo similar, há também as medidas do lado da oferta. As elasticidades da oferta medem a sensibilidadedas quantidades ofertadas em relação às variações de seus determinantes. A reação dos ofertantes está ligada ao processo produtivo e reflete as alterações dos fatores ligados ao ambiente interno e externo das empresas, afetando positiva ou negativamente as expectativas e a lucratividade de seus negócios

10.1.4.1 Demanda: elasticidade-preço

A elasticidade-preço da demanda (Epd) é definida como a razão entre a variação percentual na quantidade demandada e a variação percentual do preço do bem ou serviço. É uma razão entre a causa e o efeito, ambos medidos em termos percentuais, em que o efeito é o numerador da razão e a causa é o denominador:

Epd = Δ%Qd / Δ%P

  1. Δ%Qd: Variação percentual na quantidade demandada
  2. Δ%P: Variação percentual no preço

Existem três tipos de elasticidade-preço da demanda:

  1. Demanda elástica: Se a elasticidade-preço da demanda for maior que um, a demanda será elástica, e o gasto do consumidor e a receita de vendas diminuirão se o preço subir

  2. Demanda unitária: Se a elasticidade-preço for igual a um, a demanda será de elasticidade unitária, e o gasto do consumidor e a receita de vendas não se alterarão se o preço variar.

  3. Demanda inelástica: Se a elasticidade-preço for menor que um, a demanda será inelástica, e o gasto do consumidor e a receita de vendas aumentarão se o preço aumentar.

10.1.4.2 Demanda: a elasticidade-renda

O consumo das pessoas depende também de seu nível de renda real. Sempre que a renda real individual oufamiliar aumentar, haverá no mercado uma expansão da demanda por bens e serviços normais. A elasticidade-renda da demanda (Erd) mede a sensibilidade das quantidades compradas às alterações da renda real. É arelação entre a variação percentual da quantidade demandada e a variação percentual de renda real:

Erd = Δ%Qd / Δ%R

  1. Δ%Qd: Variação percentual na quantidade demandada
  2. Δ%R: Variação percentual da renda

Existem três tipos de elasticidade-renda da demanda:

  1. Bens ou serviços essenciais: Se a elasticidade está entre zero e um, provavelmente é um bem considerado essencial
  2. Bens ou serviços supérfluos ou de luxo: Se a elasticidade é menor que um, o consumidor o considera um bem de luxo.
  3. Bens ou serviços inferiores: Se a elasticidade é maior que um, o consumidor o considera um bem de luxo

10.1.4.3 Oferta: a elasticidade-preço

As quantidades ofertadas variam quando o preço do bem ou serviço se altera. A intensidade dessa reaçãodepende do tempo de resposta da produção da empresa

Epo = Δ%Qo / Δ%P

  1. Δ%Qo: Variação percentual na quantidade ofertada
  2. Δ%P: Variação percentual do preço

Existem três tipos de elasticidade-preço da oferta:

  1. Oferta elástica: Epo > 1
  2. Oferta unitária: Epo = 1
  3. Oferta inelástica: Epo < 1

10.2 Os mercados competitivos e não competitivos

No capítulo anterior, foram analisadas a demanda e a oferta de determinado bem ou serviço e como elas interagem no mercado. Tal análise é importante e muito usada em economia, mas pressupõe o mercado ser competitivo, ou seja, tanto os demandantes quanto os ofertantes têm pouco ou nenhum poder de influenciar o preço do bem no mercado, pela variação da quantidade que compram ou produzem. Na verdade, tomam o preço de mercado como dado. Isso porque os participantes, muito numerosos, compram pouco ou produzem pouco em relação às quantidades negociadas no mercado como um todo; supõe-se também que o custo de promover conluios, fusões e aquisições seja elevado. Mas há situações em que tais condições não prevalecem.

10.2.1 Os custos de uma empresa

Custos de produção: São todos aqueles incorridos ao longo do processo produtivo. Estão associados às quantidades de fatores (recursos) utilizados no processo produtivo que, multiplicados por seus preços, resultarão no montante de recursos monetários a serem despendidos pela empresa. Os custos totais (CT) são fixos e variáveis.

  • Nomenclaturas:

    • Custo totais = Cf + Cv
    • Custos fixos médios = Cf / Q
    • Custos variáveis médios = Cv / Q
    • Custos médios totais = CT / Q
    • Custos marginais = ΔCT / ΔQ
  • Relação dos custos com quantidade produzida

  • Custo Marginal x Custo total médio

Q* = quantidade na qual o custo total médio é mínimo

A curva de custo marginal cruza a curva de custo total médio no ponto mínimo desta

  • Maximização do lucro
  1. Receita total (RT) = P x Q
  2. Receita média (Rme) = RT / Q
  3. Receita marginal (RMg): ∆RT / ∆Q
  4. Maximização do lucro: RMg = CMg

10.2.2 A competição perfeita

Para que haja competição perfeita, algumas condições devem prevalecer:

  1. O número de demandantes e ofertantes deve ser grande o suficiente para que a quantidade ofertada ou demandada individualmente pelos participantes do mercado seja pequena em comparação ao negociado no mercado como um todo. Nessas condições, cada participante transaciona o produto ao preço no qual o mercado está operando, sendo incapaz de influenciá-lo alterando sua produção, por esta ser muito pequena em relação ao tamanho total do mercado. Assim, cada ofertante e cada demandante toma o preço como dado, são price takers. Isso significa que o produtor não influencia o preço quando altera sua produção e o comprador também não o influencia se alterar a quantidade que compra.

  2. O bem transacionado deve ser razoavelmente padronizado, não havendo diferenças relevantes de marca, ou origem, as quais possam gerar preferências entre os compradores.

  3. Os participantes do mercado devem ser todos igualmente bem informados, para que as diferenças (assimetrias) informacionais não reduzam a competição.

  4. Não deve haver barreiras à entrada e à saída dos participantes no mercado.

Assim a área hachurada na figura abaixo representa o lucro máximo da empresa em competição perfeita, a qual vende pelo preço P

O produtor, em competição perfeita, maximiza seu lucro produzindo uma quantidade tal que: Receita marginal = preço = custo marginal

10.2.3 Lucro econômico versus lucro contábil

Um aspecto importante, e válido qualquer que seja o tipo de mercado no qual a empresa atua, diz respeito à existência de dois tipos de custos:

  1. Custos explícitos: Implicam pagamentos e desembolsos de recursos, como: Compra de matérias-primas
  2. Custos implícitos: Rentabilidade que seria obtida caso o capital da empresa fosse aplicado de outra forma, por exemplo: Títulos públicos.

Distinção de conceitos:

  1. Conceito contábil de lucro: Não leva em consideração os custos implícitos
  2. Conceito de lucro econômico: Inclui todos os tipos de custos implícitos e explícitos

Ex: Título público com retorno de 10% aa e empresa teve rentabilidade de 7% no ano. Houve lucro contábil mas prejuízo econômico, pois o capital poderia ter sido aplicado em outro tipo de aplicação

O cálculo adequado para a empresa maximizadora de lucro é o lucro econômico

  • Tendência de lucro zero nos mercados competitivos

Num mercado em competição perfeita, há livre entrada e saída de empresas. Se as empresas atuando no setor obtiverem lucros substanciais, atrairão novos entrantes, aumentando a oferta e fazendo o preço de equilíbrio cair até a tendência de zerar o lucro.

10.2.4 Estruturas de mercado

Estruturas de mercado são modelos que analisam os aspectos inerentes de como os mercados estão organizados de acordo com o comportamento das empresas, destacando a interação entre ofertantes e demandantes. As estruturas de mercado são, entre outras:

  • Concorrência perfeita
  • monopólio/monopsônio
  • oligopólio/oligopsônio
  • concorrência monopolística.

As características de cada modelo de estrutura de mercado baseiam-se em:

  • Número de concorrentes
  • Tipo do produto ou serviço
  • Acesso às novas empresas
  • Fixação de preços

10.2.4.1 O monopólio

Uma possibilidade de falha de mercado ocorre, quando há somente um produtor de determinado bem

Apesar do seu poder de mercado, o monopolista não pode vender o produto ao preço que quiser. A curva de demanda vigente no mercado mostra, a cada preço, a quantidade que os consumidores comprariam.

Contudo, o monopolista tem mais liberdade que o produtor em competição perfeita, porque pode escolher, na curva de demanda, a combinação de preço e quantidade que maximize seu lucro

O produtor em concorrência perfeita só escolhe a quantidade, não determina o preço, que é dado pelo mercado como consequência da interação da demanda e da oferta como um todo.

O monopolista maximiza seu lucro aumentando sua produção até que a receita marginal equalize o custo marginal. Nessa produção maximizadora, a receita marginal é menor do que o preço

O monopolista diminui a quantidade produzida para maximizar seu lucro e cobra um preço maior que o custo marginal. Diz-se que o monopolista faz o preço do seu produto. Ele é o determinador do preço, ou seja, o price maker.

Para que o monopólio se mantenha, é preciso que exista alguma barreira à entrada de novos participantes.

  • Tipos de barreiras monopolistas:
  1. Instituído por lei
  2. Concessão de patente
  3. Propriedade exclusiva de um insumo essencial para a produção daquele bem
  4. Tamanho do mercado e dos altos custos fixos de um setor, chamado de monopólio natural
  5. Execução de estratégias para barrar novos entrantes e manter seu poder de mercado

A regulação governamental deve ter o objetivo de fazer com que o mercado no qual não haja competição, ou no qual esta seja restrita, funcione o mais próximo possível da situação competitiva, com igualdade do preço ao custo marginal.

10.2.4.2 A concorrência monopolística

Em síntese, as principais características das empresas que operam em condições de concorrência monopolística:

  1. O número de empresas atuando no mercado é elevado, isto é, há muitos concorrentes
  2. O produto de cada empresa é diferenciado, porém há produtos substitutos de outras empresas, na percepção dos consumidores
  3. As empresas têm liberdade de fixar os preços de seus bens ou serviços, contudo, como a rivalidade é alta, tal liberdade torna-se limitada
  4. Não há barreiras legais ou tecnológicas ao ingresso e à saída de empresas no/do mercado, mas a consolidação da marca ou da patente tende a ser custosa e demorada em termos de retornos financeiros.

Nos mercados em concorrência monopolística, a demanda pelo produto de uma marca apresenta certa inelasticidade em relação a preços, devido à fidelidade dos compradores da marca. Mas, mesmo que a empresa pratique um preço maximizador de lucros, levando em consideração a inelasticidade de demanda, seu lucro tende a ser zero no longo prazo devido ao grande número de empresas concorrentes de bens substitutos próximos. É uma combinação interessante em que há formação de preço monopolística (preço maior que ocusto marginal) e lucro muito pequeno ou nulo (preço = custo médio), devido à existência de grande número de concorrentes.

10.2.5 A teoria dos jogos

A teoria dos jogos se dedica a estudar situações nas quais a ação de cada agente envolvido afeta os ganhos ouperdas obtidos por ele e por todos os demais, desenvolvida por John Nash.

Pesquisar dilema do prisioneiro

Segue exemplo de oligopólios:

  1. Nível 1: Competir produto novo
  2. Nível 2: Não competir e manter produto inicial
  • Nível 1: Competição de ambas empresas, gerando 9 milhões para ambas as empresas
  • Nível 2/3: Ganho de uma empresa que atuou no produto novo em detrimento da perda da outra empresa
  • Nível 4: Formação de cartel e não competindo no produto novo

Estratégia dominante: A estratégia dominante é uma estratégia local que estabelece que a empres individualmente poderia ter para ter o melhor retorno em comparação com a empresa em competição.

  • Empresa A/B: Atuar em produto novo pelo lucro de 14 milhões desrespeitando o cartel, ou atuar em produto novo pelo lucro de 9 milhões devido ao risco da empresa concorrente desrespeitar o cartel (gerando lucro de apenas 6 milhões)

Observe que ambas empresas ao analisarem individualmente suas decisões x competidores entendem que desrespeitar o cartel é a melhor alternativa tanto pela maximização do lucro quanto a relação do risco.

Equilíbrio de nash: Situação em que maximiza o retorno de ambas as empresas

No exemplo citado, o equilíbrio de nash está na formação de cartel, gerando 12 milhões para cada empresa. É importante ressaltar que no equilíbrio de nash, ainda é possível que haja empresas com maior retorno que outras. Ex: (13/12)

O livro abordou o conceito de forma bastante introdutória, há mais pontos como estratégias sucessivas, atuações governamentais, probabilísticas e modelos que viabilizem a formação de cartel. É importante compreender também as premissas da teoria dos jogos.

10.2.6 A defesa da concorrência no Brasil

No Brasil, funciona o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), responsável desde 1994 pela promoção da competição nos mercados, prevenindo e reprimindo as ações que a limitem. Fazem parte do SBDC:

  1. Secretaria de Direito Econômico (SDE): órgão do Ministério da Justiça, responsável por instruir aanálise concorrencial dos atos de concentração econômica, como fusões e aquisições, e investigar as infrações à ordem econômica

  2. Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae): órgão do Ministério da Fazenda responsável por analisar casos de concentração econômica e as respectivas condutas, para informar a SDE

  3. Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade): autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, responsável pelas decisões, na esfera administrativa, dos processos iniciados pela SDE.

10.2.7 Blocos econômicos: como definir o mercado

Quando se avalia o grau de concorrência empresarial num certo setor da economia, é preciso considerar também os produtores estrangeiros. Uma empresa pode ser a única produtora de determinado bem no país, mas há a concorrência de produtos importados

O comércio internacional tem se tornado cada vez mais relevante, alterando o grau de concorrência em muitos mercados. Blocos econômicos como: União européia, Nafta, Mercosul, Organização Mundial do Comércio (OMC).

10.3 Mensuração da atividade econômica: Produção e demanda

Quando se passa para o campo da macroeconomia, fala-se ainda de oferta e demanda, mas é preciso cuidado na adaptação das ferramentas de análise. Isso porque a macroeconomia trata dos chamados agregados econômicos

10.3.1 Produto interno bruto (PIB)

O PIB é um indicador da produção de bens e serviços que ocorre dentro das fronteiras de determinada região, seja um país ou conjunto de países, em dado período de tempo em termos brutos, isto é, sem descontar a produção necessária para meramente compensar os efeitos do desgaste e da depreciação dos equipamentos já existentes.

Para que não ocorram duplicidades ou omissões, o cálculo do PIB obedece à seguinte definição:

O valor monetário do PIB de uma região corresponde ao somatório dos valores dos bens e serviços finais produzidos dentro da área geográfica da região, em dado período.

O PIB também permite saber como se comporta a geração de renda na economia, isto é, o total de salários, aluguéis, lucros e juros, já livres das distorções

  • PIB real x PIB nominal

    1. PIB Real: Valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país, em um determinado período, a preços de algum ano base ou a preços constantes.
    2. PIB Nominal: Valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país, em um determinado período, a preços vigentes

10.3.1.1 PIB sob diferentes óticas de análise:

  1. Ótica setorial

O PIB é o somatório da produção dos bens e serviços finais de todos os setores envolvidos:

  • Agropecuário: Setor primário
  • Industrial: Setor secundário
  • Serviços: Setor terciário
  1. Ótica do produto
  • Bens de serviço e consumo (C): Destinados diretamente ao atendimento das necessidades das famílias, classificados em:

    • Consumo durável. Ex: Imóveis
    • Semidurável. Ex: Automóveis
    • Consumo não durável. Ex: Alimentos
  • Bens de serviços de produção (Investimentos - IB): Utilizados na fabricação de outros bens ou agregados na produção de outros bens, mas que não se desgastam totalmente no processo produtivo

    • Capital físico. Ex: Maquinário
    • Construção cívl. Ex: Plantas de unidades produtivas
    • Intermediários. Ex: Ferro, aço
  1. Ótica da demanda agregada (Dispêndio)

o PIB é o conjunto de bens e serviços de consumo destinados às:

  • Cálculo do PIB e da demanda agregada

PIB = Cp + G + Ip + IG + Variação de Estoques + X – M

Onde:

  • C = Consumo das Famílias

  • Cp = Empresas privadas e estrangeiras

  • G = Gastos do Governo

  • IP = Investimentos de empresas privadas nacionais e estrangeiras

  • IG = Investimentos do governo e empresas públicas

  • Variações de estoque

  • X = Serviços voltados às exportações

    X = Consumos [Cx] + Investimentos [IBx]

  • M = Bens e serviços importadoS

    M = Consumos [Cm] + Investimentos [IBm]

Variações:

  1. Oferta agregada = PIB + M
  2. Demanda interna = Cp + G + Ip + IG + Variação de Estoques
  3. Demanda externa = X
  4. Demanda agregada = Demanda interna + Demanda externa

Ou seja:

  1. PIB = Demanda interna + Demanda externa - Importações
  2. Oferta agregada = Demanda agregada
  3. Oferta agregada = Demanda interna + Demanda externa
  1. Ótica da renda

Bases de cálculo:

  • Produto interno bruto (PIB): Somatório do valor monetário de toda a produção de bens e serviços finais realizados dentro do território de um país (ou região) em dado período

  • Renda interna bruta (RIB): Somatório da remuneração dos fatores de produção de propriedade de residentes e não residentes, utilizados na produção de bens e serviços finais.

  • Renda líquida (RL): Recebimentos menos remessas de rendimentos de transações de fatores de produção entre o país e o resto do mundo. No balanço de pagamentos, são as contas “serviços de fatores da produção” e “rendas” (salários, aluguéis, juros, lucros, dividendos, royalties, assistência técnica, etc.) e possuí o cálculo:

RL = RRE - REE

onde:

  • RRE: Renda recebida do exterior

  • REE: Renda enviada ao exterior

  • Produto nacional bruto (PNB): Valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos pelos residentes no país em determinado período. O PNB mensura a renda dos residentes da economia, não importa se a renda é obtida na produção doméstica ou na produção externa. Dessa forma, temos:

PNB = PIB + RRE – REE

  • Renda nacional bruta (RNB): Remuneração pelo uso dos fatores da produção (terra, capital financeiro, máquinas e equipamentos, mão de obra, tecnologia, etc.) na produção de bens e serviços finais

  • Despesa nacional bruta (DNB) ou demanda agregada (DA): Exatamente a mesma coisa do cálculo do PIB

Cálculos:

PIB = RIB PNB = PIB – REE + RRE PNB = RNB = DNB

Relembrando:

  • PNB: Produto nacional Bruto
  • PIB: Produto interno bruto
  • REE: Renda enviada ao exterior
  • RRE: Renda recebida do exterior
  • RNB: Renda nacional bruta

PNB = RNB e também é possível informar o per capita

Conclusão:

PIB = RIB = Demanda agregada - M = Oferta agregada - M = Demanda interna + Demanda externa - Importações = Cp + G + Ip + IG + Variação de Estoques + X – M

As despesas com consumo (famílias, empresas e poder público) e os investimentos brutos (empresas privadas nacionais e estrangeiras, e públicas) são os principais componentes da demanda agregada. Os determinantes do consumo e dos investimentos são os seguintes:

  1. do consumo:
  • Renda corrente líquida dos tributos (ou “renda disponível”)
  • Expectativas de renda futura (ou “renda permanente”)
  • Estoque de ativos
  • Disponibilidade de crédito
  • Taxas de juros
  • Expectativas sobre as taxas de juros futuras.
  1. Das decisões privadas de investimento:
  • Expectativas de lucro
  • Disposição de correr (ou aversão ao) risco
  • Disponibilidade de crédito (acesso ao capital de terceiros)
  • Taxas de juros (custo do capital de terceiros)
  • Marcos regulatórios e barreiras.
  1. Das decisões:
  1. De exportar:
  • taxa de câmbio
  • demanda ou renda mundial
  • barreiras comerciais
  1. De importar:
  • taxa de câmbio
  • demanda ou renda doméstica
  • barreiras comerciais

10.3.2 Ciclo de negócios e crescimento potencial

  • PIB x PIB potencial x Demanda agregada

O crescimento sustentado, isto é, contínuo no longo prazo, só pode ser garantido se as empresas e os governos investirem e, com isso, ampliarem a capacidade produtiva do país, cujo pleno uso corresponde ao chamado PIB potencial.

Ao mesmo tempo, as oscilações do PIB efetivamente observadas no curto prazo, fazendo com que fique acima ou abaixo do PIB potencial (isto é, da capacidade de produção), ao longo de um ou de vários trimestres, dependem da demanda agregada.

Resumo da relação entre PIB potencial e PIB realizado através da demanda e oferta agregada

Períodos de recessão

Em períodos de recessão, quando o PIB efetivamente realizado fica abaixo do potencial, ocorre o contrário. As empresas entram em regime de ociosidade e tendem a demitir trabalhadores. Os bancos centrais costumam cortar as taxas de juros para estimular a demanda e evitar o desemprego associado à recessão. Por vezes, o governo também aumenta seus gastos ou reduz os impostos para acelerar a recuperação.

  • Desemprego Conjuntural: Desemprego que surge por conta de descompassos entre a demanda agregada e o PIB potencial
  • Desemprego Estrutural: Em momentos de fortes mudanças tecnológicas na estrutura produtiva, o desemprego pode persistir mesmo nesses momentos de expansão da demanda agregada. Isso ocorre, em geral, por conta das mudanças tecnológicas e da baixa mobilidade da força de trabalho.

A política econômica de estabilização procura evitar os dois males decorrentes dos descompassos entre a oferta agregada (o PIB potencial) e a demanda agregada (o PIB efetivo). Esses males são o desemprego e a inflação

10.3.3 Inflação

Inflação é a alta generalizada de preços.

Os diversos indicadores de inflação medem a mudança dos preços, mas não as alterações relativas, pelas quais alguns preços sobem e outros caem, e sim a alta generalizada de preços.

  • Resumo das características dos principais índices de preço no Brasil:

OBS: Os aumentos de preço não são uniformes e em regiões podem ter diferenças. Não existe um índice de preço que seja sempre melhor que outro. O desafio é identificar o índicemais adequado, dado o uso que se deseja fazer dele

FGV:

  1. IGPs: Índices gerais de preços
  1. IGP-DI: índice geral de preços de disponibilidade interna, resultante do cálculo:

IGP-DI = 0,6 x IPA + 0,3 x IPC + 0,1 x INCC

  • IPA: Índice de preços no atacado
  • IPC: Índice de preços ao consumidor Brasil
  • INCC: índice nacional de custos da construção
  1. IGP-M: Índice geral de preços de mercado

Como regra, os IGPs são muito sensíveis ao que se passa no cenário externo devido ao grande peso do IPA.

IBGE:

  1. INPC: Índice nacional de preços ao consumidor

Mede a inflação com base nos hábitos de consumo de famílias com renda mensal entre um e cinco salários mínimos

  1. IPCA: Índice de preço ao consumidor amplo

Mede a inflação baseada no padrão de consumo das famílias com renda entre um e 40 salários mínimos

o IPCA é mais influenciado pelo preço dos serviços, como educação particular, seguros, despesas com condomínio,refeição fora de casa e internet banda larga. Devido a essas características, o INPC muitas vezes é chamado de inflação das classes de renda mais baixas, o que é correto

  • A construção de um índice de preços:

10.4 As políticas monetária e fiscal e estabilização da economia

A análise das políticas monetária e fiscal do governo, conduzidas com o objetivo de estabilizar a economia de acordo com as trajetórias da demanda agregada e do PIB efetivo a coincidir o mais possível com a trajetória do PIB potencial.

A análise desses tópicos depende do desenvolvimento de uma série de conceitos e definições, como os de moeda e de orçamento público, e da descrição de como funcionam várias instituições, como o banco central, o sistema bancário e assim por diante

  • Conceitos:
  1. Agregados monetários: Constituem o montante total de moeda de um país, classificados e quantificados pelos seus respectivos Bancos Centrais, de acordo com o grau de liquidez.
  1. Do lado da demanda: Os agregados monetários são conhecidos como “meios de pagamentos” e constituem as mais diferentes formas de realizar pagamentos, ou seja, as transações realizadas pela sociedade. O primeiro meio de pagamento (M1), é composto por:

M1 = papel-moeda em poder do público (PMPP) + depósitos bancários à vista (DV)

Temos ainda no Brasil outras classificações por ordem de liquidez, tais como: M2, M3 e M4.

  1. Do lado da oferta: Temos o Banco Central como monopolista da emissão de moeda denominada “base monetária,” que constitui o passivo monetário também conhecido como emissão primária de moeda

A base monetária inclui o total de cédulas e moedas em circulação mais os recursos monetários da conta “reservas bancárias,” ou seja,

B = MM + RB.

O banco central (BACEN) autônomo ou independente: Um banco central independente não financia o déficit do orçamento público, concentrando-se em estabilizar a economia.

  • Criação de moeda pelos bancos

10.4.1 A política monetária

Determina o montante de recursos monetários em circulação e tem por objetivo manter a taxa de inflação no limite da meta preestabelecida.

Para isso, o Banco Central deve controlar a oferta de moeda e influenciar a taxa de juros de mercado.

  • Principais instrumentos de política monetária:
  1. Depósito compulsório: O Banco Central determina o percentual de reservas obrigatórias que os bancos comerciais devem manter junto ao BC em “reservas bancárias.”

  2. Taxa de redesconto: É a taxa de juros sobre os empréstimos que o Banco Central oferece aos bancos comerciais.

  3. Operações de mercado aberto (open market): O Banco Central realiza leilões de compra e venda de títulos públicos

  • Regime de metas de inflação:
  1. O gestor: Banco Central
  2. A meta: inflação
  3. O instrumento: taxa de juros, Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic).

Esse regime, que foi utilizado pela primeira vez na Nova Zelândia, em 1989, se caracteriza por três elementos básicos:

  1. o comprometimento com a estabilidade de preços (inflação baixa), que é o objetivo primordial da política monetária

  2. A estratégia de atuação do banco central e sua meta são comunicadas, com antecedência, de uma forma transparente e clara, ao público em geral

  3. A existência de instrumentos de atuação que tornem as autoridades monetárias (banco central) capazes de cumprir a meta

  • A escolha do índice da inflação para o regime de metas no Brasil:

No Brasil, a meta para a inflação é definida em termos da variação anual do índice de preços ao consumidor amplo, o IPCA, elaborado pelo IBGE com uma meta central com uma faixa de tolerância. Os motivos que justificam a existência dessa faixa de tolerância são:

  1. Nenhum banco central consegue ter total controle sobre a variação dos preços. No Brasil, o que o Banco Central faz é principalmente influenciar a taxa de juros básica da economia (a taxa Selic)

  2. A existência dos intervalos de tolerância permite, portanto, ao banco central, variar comedidamente sua política monetária, acomodando parcialmente eventuais choques inflacionários exógenos

O horizonte temporal em regimes de metas de inflação é a especificação do período em que se verificará o cumprimento da meta. No Brasil utilizam-se normalmente o período anual

  • A atuação do banco central na busca do cumprimento da meta:

A maior parte dos bancos centrais utiliza a taxa de juros de curto prazo como instrumento principal de política monetária. O regime brasileiro de metas de inflação utiliza a taxa Selic. Essa taxa, medida em % ao ano, é a taxa de juros média que incide sobre os empréstimos diários no mercado interbancário, com prazo de um dia útil (overnight), lastreados por títulos públicos custodiados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Isso significa que a taxa Selic é a taxa que equilibra o mercado de reservas bancárias

A taxa básica de juros (Selic) atua na inflação, e os principais mecanismos para isso são:

  1. Varia a demanda agregada, sobretudo os componentes de consumo das famílias e de investimento das empresas, os quais respondem ao custo de crédito e de financiamento

  2. Atua sobre a taxa de câmbio, pois a entrada de capital financeiro do exterior responde ao diferencial entre as taxas de juros interna e externa

  3. Afeta as expectativas dos agentes econômicos. Por exemplo, ao elevar a taxa de juros de curto prazo para evitar o surgimento da inflação

10.4.2 A política fiscal

Trata das receitas e despesas públicas, o orçamento público.

A política fiscal cumpre, pelos menos, três objetivos:

  1. Financiar os gastos públicos
  2. Promover a distribuição de renda
  3. promove o crescimento e o desenvolvimento, bem como a geração de renda e o emprego

A condução da política fiscal trata da administração simultânea de três agregados macroeconômicos fundamentais:

G = Gastos do governo IG = Investimentos do governo T - Tributos J = despesas de juros sobre a dívida pública

A situação das contas públicas:

  1. Superávit primário: T > G + IG
  2. Déficit primário: T < G + IG
  3. Equilíbrio primário: T = G + IG
  4. Déficit nominal: T < G + IG+ J
  5. Superávit nominal: T > G + IG+ J

Regras: | (ou), -> (Consequêntemente)

  1. a | b | c
  2. a -> (d | e)
  3. (b | c) -> d
  • Fontes de financiamento do déficit público:
  1. Emitir moeda: A monetização do déficit pode levar o país a um processo inflacionário

  2. Elevação de carga tributária: Elevação de alíquotas ou criação de novos impostos, taxas ou contribuições.

  3. Emissão de títulos públicos: O Tesouro Nacional emite títulos da dívida pública, que serão vendidos aos poupadores por meio do mercado financeiro ou pelo Tesouro Direto

  4. Empréstimos ou financiamentos: Tomar empréstimos ou financiamentos nos mercados internos e externos

10.4.3 As agências de avaliação de risco e o grau de investimento

As empresas de rating classificam o risco de um comprador de um título receber o pagamento no prazoacordado com os juros estabelecidos originalmente na emissão da dívida. As agências mais famosas e respeitadas nesta área são: Moody’s, Fitch Ratings e Standard & Poor’s.

As notas de classificação de risco se dividem em dois grupos:

  1. o grau de investimento: sinalizando os títulos mais seguro.
  2. o grau especulativo: indicando o grupo de títulos que representam maior risco

Dentro de cada grupo, as notas mais altas representam um risco menor.

10.5 O balanço de pagamentos

Balanço de pagamentos é o registro contábil sistemático de todas as transações econômicas de um país com o exterior, sejam elas de comércio, serviços, rendas, capitais ou de quaisquer outras naturezas

Alguns conceitos importantes:

  1. Exportações de bens e serviços: Bens e serviços produzidos internamente e vendidos no exterior registradas na conta-corrente do BP.

  2. Importações de bens e serviços: Bens e serviços produzidos no exterior e vendidos internamente, registradas na conta-corrente do BP.

  3. Entrada líquida de capitais externos: Compra de ativos internos por residentes no exterior menos a compra de ativos estrangeiros porresidentes no país registrada na conta de capital do BP.

  • Principais contas:
  1. Balança comercial: Mercadorias
  • CIF (Cost,Insurance and Freight): vendedor assume os custos
  • FOB (Free On Board): Comprador assume os custos
  1. Serviços: Viagens, transportes, fretes, seguros, etc

  2. Rendas:

  • Primárias: salários, etc
  • Secundárias: governos (bolsas de estudos), etc
  1. Transações correntes: Soma das contas 1, 2 e 3

  2. Conta capital: Ativos não financeiros, marcas, logotipo, etc

  3. Conta financeira: Investimentos diretos no exterior e no país, empréstimos, financiamentos, créditos, fundos de investimentos, etc

Cálculo do balanço de pagamentos:

O Brasil costuma ser superavitário na conta de capital, com as entradas de capital superando as saídas, pois é um país que atrai capitais estrangeiros

Os residentes no Brasil são deficitários na conta-corrente do BP (pagam, por bens e serviços importados, mais dólares norte-americanos do que recebem do exterior pelo que exportam) e superavitários na conta de capital (recebem mais dólares, como aplicações e investimentos financeiros de estrangeiros, do que investem no exterior)

10.5.1 Política cambial

Trata de um conjunto de ações, normas e procedimentos do Banco Central destinado a manter o funcionamento da economia por meio de alterações das taxas de câmbio e do controle das operações cambiais.

As transações econômico-financeiras entre residentes e não residentes no país se refletem no mercado cambial, por meio da demanda e da oferta de dólares norte-americanos

  • Taxa de câmbio:
  1. Taxa de câmbio nominal: É a taxa utilizada para trocar unidades da moeda de um país por unidades da moeda de outro país
  2. Taxa de câmbio real: É a taxa utilizada para trocar os bens e serviços de um país pelos bens e serviços de outro país
  • Regime cambial: É a regra de funcionamento do mercado cambial, estabelecendo o papel e a forma de atuação do Banco Central nesse mercado
  1. Câmbio fixo: Valor da taxa de câmbio inalterado
  2. Câmbio administrado: Bandas cambiais tendo limites preestabelecidos de alta e de baixa (Flutuação suja, intervenções esporádicas)
  3. Câmbio flutuante: Livre Mercado

O mercado de câmbio:

10.5.2 As contas nacionais e o balanço de pagamentos

Em síntese, para aumentar sua capacidade produtiva, com crescimento do PIB potencial, o país precisa lançarmão ou da poupança interna, ou da externa ou de ambas

Equação:

  • Variações:
  1. Investimento = Poupança interna + poupança externa
  2. investimento = (PIB – consumo) + (importações – exportações)

O saldo em conta-corrente do BP corresponde à entrada líquida de bens e serviços no país. É a poupança externa. O “não consumo” interno, isto é, a poupança interna, somada à poupança externa, possibilita o investimento e o crescimento

10.6 As vantagens comparativas e o comércio internacional

O conceito devantagem comparativa é ligado visceralmente ao de custo de oportunidade. A cada escolha que fazemos, estamos abrindo mão de algo. Esse é o conceito fundamental no entendimento da teoria do comércio internacional e das vantagens comparativas

O custo de oportunidade de uma escolha é o valor da melhor alternativa de que abrimos mão ao fazer a escolha

10.6.1 Vantagens Comparativas (Livre comércio)

A teoria do livre comércio e a teoria das vantagens comparativas têm suas origens nos trabalhos de AdamSmith e David Ricardo.

Modelo que associa a relação da eficiência produtiva comparativa entre dois países e atribui o elo:

  1. Vantagens absolutas: Ocorrem quando um país possui maior eficiência que o de comparação em termos quantitativos de produção. Ex: País 1 precisa de yma hora para produzir produto n quantidades de produto X e país 2 precisa do dobro do tempo para a mesma quantidade produzida.

  2. Vantagens comparativas: Atribui a relação de custo de oportunidade no cálculo, para isto é comparado a relação de custo de oportunidade em mais de 1 linha de produto aos 2 países. Ou seja, mesmo que um país possa ser mais eficiente na produção de 2 produtos ou mais em relação ao outro país, o custo de oportunidade que este país enfrenta internamente pode ser maior que o custo de oportunidade do outro país.

Ex: País 1 tem custo de oportunidade maior para produto Y comparado com X e país 2 possui custo de oportunidade menor em relação ao produto Y com o X. Resultando comparativamente que país 2 tenha maior vantagem na produção do produto Y frente ao país 1 dado que para o país 1 o ganho marginal melhor é na produção do produto de X.

Concluie-se ao conceito:

  • Ter vantagem absoluta na produção de algum bem ou serviço é ter maior produtividade.
  • Ter vantagem comparativa na produção de algum bem ou serviço é ter menor custo de oportunidade

Outro fator importante é que é praticamente impossível que um país tenha vantagem comparativa em todos os produtos

Por este motivo, o conceito atribui-se que na abertura do comércio ocorrerá mesmo em situações de países com maior eficiência produtiva aos países em desenvolvimento:

Haverá ganhos com a especialização na produção e nas trocas voluntárias de tecido e vinho entre os dois países. Os países devem se especializar na produção do bem no qual têm vantagem comparativa, e obter o outro bem, para seu consumo, por meio de trocas (comércio internacional)

  • Sobre perdedores e ganhadores:

O motivo principal é que, apesar do ganho para o país como um todo, a abertura de uma economia gera internamente perdedores e ganhadores. A abertura ao comércio altera o preço relativo dos diversos bens daeconomia, aumentando o preço dos bens que são exportados e reduzindo o preço dos bens que são importados.

A abertura da economia para o comércio distribui renda em favor dos fatores de produção utilizados nos setores em que aquela economia possui vantagens comparativas

Quando um país abre seu mercado se tornando exportador de um bem, os produtores nacionais desse bem ficam em melhor situação. Já os consumidores internos pagam mais pelo bem. Quando um país abre seu mercado se tornando importador de um bem, os produtores nacionais desse bem ficam em pior situação. Já os consumidores internos pagam menos pelo bem. Em ambos os casos, o total de ganhos de uns tende a superar o total de perdas de outros. É o que mostra o raciocínio das vantagenscomparativas.

10.6.1.1 Formas de protecionismo

  • Tarifa sobre importações: Atribui um imposto sobre a venda do produto importado
  • Cota de importação: Quantidade máxima de importação de um bem ou serviço definida por lei
  • Restrições voluntárias à exportação: Como se houvesse um cartel estabelecido e legalizado pelo governo entre os dois países
  • Outras barreiras não tarifárias: Exigências sanitárias, sociais, ecológicas e outras

10.6.1.2 Críticas ao livre comércio internacional

A especialização decorrente do comércio internacional desconsidera os riscos consequentes de a produção do país se tornar menos diversificada. Os principais argumentos contra o livre comércio são:

  • O argumento da segurança nacional: O fornecimento externo está sujeito a interrupções no caso de desavenças e conflitos internacionais. Produtores nacionais de bens e serviços essenciais deveriam ser protegidos contra a concorrência estrangeira,visando à autossuficiência

  • O argumento da geração de empregos: Havendo proteção, mais empregos seriam criados nas indústrias que competem com os importados

  • O argumento da proteção à indústria nascente: Muitas vezes, setores buscam proteção para ter tempo de se estabelecer e concorrer com o exterior. Mesmo indústrias antigas pedem proteção temporária do seu mercado para se adaptarem a novas tecnologias e condições.

Muitos críticos não simpatizam com esta ideia, pois identificam dificuldades na sua implementação. Com base nesse argumento, há dificuldades de identificar quais setores deveriam ser protegidos

10.6.2 Acordos de comércio internacional e a Organização Mundial do Comércio

  • Bilateralismo versus multilateralismo:

Os acordos comerciais entre dois países são denominados bilaterais. Mas as trocas entre dois mercadosgeralmente se mostram menos vantajosas do que as trocas multilaterais, com vários países negociando simultaneamente

  • O General Agreement on Tariffs and Trade (GATT):

O GATT foi criado em 1947, visando promover o multilateralismo e estabelecendo regras de conduta para ocomércio internacional. As principais regras gerais foram:

  1. Reciprocidade: Se um país baixasse as tarifas, poderia cobrar que os outros países do GATT fizessem o mesmo
  2. Não discriminação: Nenhum membro do GATT poderia oferecer acordos que favorecessem somente um ou alguns países, em detrimento dos outros
  3. Transparência: Cotas ou barreiras não tarifárias deveriam ser substituídas por tarifas, cujo impacto é mais visível
  4. Subsídios às exportações: Os países signatários do GATT não poderiam subsidiar exportações, exceto para produtos agrícolas

Os países signatários do GATT se reúnem periodicamente em rodadas de negociação para a diminuição das barreiras ao comércio. Entre diversos pontos importantes dessa rodada podemos destacar:

  1. A liberalização do comércio em dois setores muito importantes para os países em desenvolvimento: agricultura e roupas.
  2. Foi criada uma nova instituição, denominada Organização Mundial do Comércio (OMC), que possui instrumentos para impor suas resoluçõesaos membros signatários

Um caso importante para o Brasil foi a vitória na OMC contra os subsídios concedidos pelos EUA ao setor de algodão

10.7 Resumo Teóricos

Table 10.1: Resumo pensadores
Pensador Período Teoria/Livro Observações
Adam Smith 1723-1790 A riqueza das nações Sua principal preocupação era com o crescimento econômico, o qual atribuía à divisão do trabalho propiciada pelas trocas nos mercados e ao consequente aumento da produtividade. Embora defendesse o laissez-faire como política econômica básica, Smith propôs a intervenção estatal em várias situações, por exemplo, se houvesse necessidade de proteção tarifária para as indústrias nascentes
David Ricardo 1772-1823 Os princípios de economia política e de taxação Defendeu a teoria das vantagens comparativas e o comércio livre entre as nações,usando modelos teóricos simples que capturavam a essência dos problemas a serem estudados. Tal prática veio a ser conhecida posteriormente, pelos seus críticos , como o “vício ricardiano”
Alfred Marshall 1842-1924 Princípios da economia Considerado o pai da microeconomia, conceituou as Curvas demanda/oferta e elasticidade
John Maynard Keynes 1883-1946 A teoria geral do emprego, dos juros e da moeda. Considerado por muitos o fundador da macroeconomia moderna. Explica por que uma economia capitalista estaria sujeita a crises de desemprego e queda de produção, e defende a atuação do governo formulando políticas compensatórias para resolver ou atenuar as crises
Milton Friedman 1912-2004 Uma história monetária dos Estados Unidos Prêmio Nobel de Economia em 1976 - Defendeu, entre outros tópicos, a importânciado capital humano para o crescimento e o desenvolvimento das economias, e da política monetária e da expectativas dos agentes econômicos para o controle da inflação. Ficou conhecido também pelas suas posições ideológicas a favor do livre mercado e contra a intervenção estatal.
John Nash 1928-2014 Teoria dos jogos Prêmio Nobel da economia em 1994 - Concebeu o equilíbrio de nash na teoria dos jogos

10.8 Bibliografia