7 Ética e sustentabilidade

7.1 Ética, moral e valores

7.1.1 Conceitos, princípios e fundamentos

  • Moral: Desde o surgimento dos primeiros agrupamentos sociais, cada um deles estabeleceu para si mesmo normas de convivência, que assumiram a forma de valores, referentes ao bem e ao mal, aplicados à conduta de indivíduos no meio social.

valores variam muito dependendo de cada sociedade

  • Ética (filosofia moral): Caracteriza-se como uma atividade reflexiva que procura interrogar sobre as diferentes práticas morais

Sócrates (470-399 a.C.), por sua postura crítica e questionadora, inicia historicamente tal atividade filosófica de interrogação sobre as normas morais estabelecidas em um dado contexto cultural.

  • Ética aplicada: Chamado de ética profissional, trata-se da fundamentação teórica geral que lhe garante legitimidade

  • Juízo ético com pretensão de universalidade: Pretende-se uma moral que se aplique a todas as pessoas

  • Juízo estético: De caráter particular, ex: Gosto musical

  • Diversidade Moral: As pessoas têm comportamentos e valores diferentes e tal situação gera afinidades ou conflitos

  • Juízos éticos e juízos morais Vázquez (1985):

    • Juízos Morais: Relativos à prática e localizados em cada situação específica, analisados sob o aspecto do indivíduo
    • Juízoes Éticos: Geram reflexões teóricas sobre comportamentos morais, são abrangentes e sempre atingem a comunidade como um todo. A definição do que é bom é um problema ético.
  • Direito: A legislação estabelece o que não pode ser feito, enquanto a ética dedica-se a pensar o que deve ser feito. É possível cometer muitos delitos éticos sem que isso implique qualquer crime

O ético precede o legal e tanto o conteúdo justo ou injusto das leis, como o seu respeito e acatamento, são de natureza ética. Zajdsznajder, (2001:74)

  • Política: Segundo Bobbio (2004:954), o termo política significa tudo o que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social

  • Religião: Tugendhat (1997:13) critica a fundamentação das normas morais via religião, visto que pressupõe-se que se é crente, sendo intelectualmente desonesto manter-se ligado a respostas religiosas para as questões morais apenas porque elas permitem soluções simples. Conclusão: Questões de ordem religiosa devem ficar restritas ao âmbito pessoal

Pensadores:

Table 6.1: Conceitos de ética
Autores Descrição
Pensamento público Sinônimos com conotação de aprovação de comportamentos sociais
Zajdsznajder (2001:72) Ética trata-se de qualificar pessoas, instituições e ações. Seu uso convém aos casos em que os deveres e o bem a ser alcançado são levados em consideração
Tugendhat, (1997:41) Uma definição terminológica possível de ‘ética’ é, diferenciando-a da moral, compreendê-la como reflexão filosófica sobre a ‘moral’”
Thiry Cherques (2008:30) A ética é a denominação da parte da filosofia que se ocupa das ideias morais
Marcondes Filho (2007:10) Diz respeito aos sistemas prescritivos e normativos vigentes em uma dada coletividade

7.1.2 Histórico de definições

Table 6.2: Período histórico
Período Autor Orientado
470-399 a.C. Sócrates Puro questionamento
428-348 a.C. Platão Intelectualismo ético
384-322 a.C Aristóteles Distinção entre saber teorético (natureza) e saber prático (Humano)
1724-1804 Immanuel Kant A ação ética é aquela que é realizada estritamente por dever
1748-1873 Jeremy Bentham e John Stuart Mill Utilitarismo
1959 Max Weber

7.1.3 Kant e o utilitarismo inglês

7.1.3.1 Teoria ética do dever

  • A lei fundamental da razão pura prática (Kant, 1984:129): Age segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal

Chauí, 1994:346, deduz as três máximas morais que exprimem a incondicionalidade dos atos realizados por dever:

  1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza
  2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio
  3. age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais

máximas são deduções do imperativo categórico e devem ser realizadas simultaneamente: é tudo ou nada

Para Kant, existem três modos de agir:

  1. Por dever
  2. Conforme o dever
  3. Contrariamente ao dever
  • Uso público e uso privado da razão, (Kant, 1974): Todo cidadão tem o direito e o dever de fazer uso público de sua razão

7.1.3.2 Utilitarismo

Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), o utilitarismo tem no princípio da utilidade o critério de avaliação ética dos atos humanos. A ação dotada de maior valor ético é aquela que maximiza a felicidade geral e minimiza a dor

Trata-se de uma fundamentação que oferece um critério consequencialista, distanciando-se da visão kantiana, pois recorre a uma análise dos resultados prováveis de cada ação, tendo em vista o bem comum

É importante observar que essa fundamentação da ética pressupõe a confiança na capacidade humana de análise racional das consequências de cada decisão, tendo em vista a maximização do benefício social

Thiry-Cherques (2008:94) define que o utilitarismo se opõe frontalmente às doutrinas não consequencialistas, que sustentam que determinados atos são certos ou errados em si mesmos e não pelas consequências que acarretam

7.1.4 Modelos de gestão ética

  • Ética da convicção e ética da responsabilidade. Weber, 1959: Toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas:

    • Ética da convicção: baseada em princípios essenciais, ou direitos humanos, ou a teoria de Kant
    • Ética da responsabilidade: Raízes aristotélicas e mantém sua referência principal no utilitarismo

Máxima da Ética da Convicção: Cumpra suas obrigações ou siga as prescrições

Cada um dos modelos de gestão ética oferece critérios antagônicos para o processo de tomada de decisão

Dilemas éticos:

Kidder (2007:203) diferencia tentação moral de dilema ético:

  • Tentação moral: Escolha entre opções que são, de modo evidente, corretas ou erradas. A pessoa que decide tem consciência disso
  • Dilema ético: Escolha entre o certo e o certo. A pessoa que decide não obtém nenhum tipo de vantagem com sua decisão

7.1.5 Desafios éticos na pós-modernidade

Bauman (1999:288) compreende a pós-modernidade como a condição atual da modernidade, que agora, conflituosamente consciente de suas dificuldades, percebe a problemática implícita em realizar seu projeto integralmente

Giddens (1991:56), por sua vez, prefere a noção de modernidade tardia/radicalizada como mais adequada para referir-se à sociedade em que vivemos

“fomos deixados com perguntas que uma vez pareceram ser respostas […]. Uma consciência geral deste fenômeno se filtra em ansiedades cuja pressão todos sentem”

Habermas (Habermas, 1992:118), prefere compreender a modernidade como um projeto inacabado, sugerindo que deveríamos aprender com os desacertos que acompanham o projeto

  • Niilismo: vivência angustiante da perda de sentido e propósito para a vida humana

“A cultura já não pode mais proporcionar uma explicação adequada do mundo que nos permita construir ou ordenar nossas vidas” (Featherstone, 1997:15)

7.1.6 Ética e poder nas organizações: o papel do líder

  • Sofistas: grandes mestres de retórica e oratória que convenciam o povo a votar de acordo com seus interesses, ou daqueles que os financiavam

Para Sócrates, a liderança precisa demonstrar virtudes práticas e interagir com seus liderados para fomentar seu próprio desenvolvimento. Desta forma, é possível distinguir os modelos de liderança:

  1. Militar: O gestor se impõe pela força e pela ameaça
  2. Religioso: O gestor se apresenta como salvador, prometendo a solução de todos os problemas
  3. Sofista: O gestor argumenta com sua equipe, procurando convencê-la de suas próprias ideias
  4. Socrático: o gestor demonstra virtudes e investe no crescimento de seus liderados, desenvolvendo habilidades e competências

Presença de um líder que aja segundo as duas máximas socráticas:

  1. Só sei que nada sei: Conhecimento da sua própria incapacidade de obter conhecimento pleno
  2. Parteiro de ideias: Possibilita que cada um traga à tona seus próprios conceitos
  • Relações de poder, Foucault (1995:245-246): As relações de poder se enraízam profundamente no nexo social

    • Liderança pelo exemplo: Uma das principais qualidades do líder ético é a coerência entre seu discurso e suas ações

Brechas de valores, Grosso (2005): Conjunto de equívocos cometidos no cotidiano, chamado de moral cotidiana organiado em quatro dimensões:

  1. O que pensa: Valores solidificados em sua consciência
  2. O que diz: A forma como seus valores são transmitidos aos demais
  3. O que faz: Ações
  4. O que demonstra: Linguagem não verbal

7.1.6.1 Abuso de poder

Robbins, Judge e Sobral (2010:406): Quanto maior a dependência de B em relação a A, maior o poder de A sobre B

Wagner III e Hollenbeck (2009) alertam que há abuso no exercício do poder quando ele não é orientado para promover o máximo de bem para a maior quantidade de pessoas

  • Assédio Moral: Fiorelli, Fiorelli e Malhadas Jr.(2007) destacam alguns aspectos fundamentais

    1. Conduta abusiva: Excede os limites de regras e valores do grupo social
    2. Visibilidade: Materializada por meio de ações do assediador
    3. Intenção: O assediador deve agir com o objetivo de atingir a pessoa-alvo
    4. Dano comprovado: O assédio moral só pode ser caracterizado com o dano comprovado
    5. Comportamento repetido por longo tempo: elemento importante para afastar a possibilidade de ofensa isolada.

De acordo com Fiorelli, Fiorelli e Malhadas Jr. (2007) há diferente tipos de assediados:

  1. Assediado perverso: Assume o papel de vítima com o objetivo de desestabilizar o agressor
  2. Assediado narcisista: Não aceita ser gerenciado porque não encontra qualidades no seu gerente, o considerando inferior
  3. Assediado obsessivo: Sofre se não consegue atingir os padrões mínimos de desempenho satisfatório
  4. Assediado passivo-agressivo: Não conta com a solidariedade nem do chefe e nem de colegas, ficando desprotegido de possíveis agressores

Esses autores propõem uma classificação para os procedimentos de assédio moral, como segue:

  1. Procedimentos de intimidação: Iniciam o processo de assédio moral, uma vez que são quase imperceptíveis.
  2. Procedimentos de ataque: O indivíduo é mais incisivo, a agressividade é explícita
  3. Procedimentos de relacionamento: O agressor procura destruir os relacionamentos interpessoais da vítima
  4. Procedimentos de punição: A punição é causa de muitos efeitos negativos especialmente quando injusta
  5. Procedimentos de isolamento: Comportamentos de indiferença a uma determinada pessoa,
  6. Procedimentos de Estigmatização: Comportamentos preconceituosos
  7. Procedimentos ofensivos à moral: Merecem relevância por serem de extrema gravidade

Hirigoyen (2001) explicita as formas de constrangimento:

  1. Deformação da linguagem: Comunicação com voz fria
  2. Recusa à comunicação direta: O agressor fere a dignidade da vítima de maneira vaga e não explica seus motivos.
  3. Desqualificação: Negar as qualidades da pessoa
  4. Isolamento e deterioração do ambiente de trabalho
  5. Afronta à competência: Desrespeitar o talento profissional
  6. Indução ao erro: levar uma pessoa a cometer uma falha, para criticá-la
  7. Assédio sexual: atividade indesejada de caráter sexual que afeta o emprego da pessoa e cria um ambiente de trabalho hostil

7.1.7 Moral nas organizações brasileiras

A moral da sociedade brasileira foi construída com base nos valores do patrimonialismo ibero-americano. Assim, herdamos a moral patrimonialista, cujas características são apontadas por Rodríguez (2006):

  1. Autoritarismo dos dirigentes
  2. Políticas públicas voltadas para benefício próprio
  3. Solidariedade social apenas entre os detentores do poder: práticas do nepotismo e do clientelismo
  4. O sucesso da organização depende dos dirigentes
  5. Corrupção em todos os níveis do empreendimento.

Srour (2008:106-120) apresenta:

  1. Moral da parcialidade: Marcada por desonestidade, suborno, etc
  2. Moral da parceria: Marcada por interesses de médio e longo prazo, acordos, relações de cooperação e rejeição de fraudes

7.1.7.1 Código de conduta e comitê de ética

  1. Código moral: Tem origem na religião ou nos valores individuais da liderança. Não é uma titulação adequada para as organizações
  2. Código de conduta: compreensão de um código estabelecido com base nas experiências vivenciadas pelo grupo social ao longo do tempo
  3. Código de ética: Regras orientadoras de comportamentos elaboradas a partir dos valores éticos

Patrus-Pena e Castro (2010) apresentam os benefícios da adoção de um código de conduta

7.2 Responsabilidade social e governança

7.2.1 Fundamentos da responsabilidade social

Stoner e Freeman (1999) apresentam com base no livro “O evangelho da riqueza” de Andrew Carnegie (1835-1919) uma abordagem da responsabilidade social das grandes empresas baseada nos parâmetrios:

  1. Princípio da caridade: os ricos dasociedade deveriam ajudar os menos afortunado
  2. Princípio da custódia: Empresas e os ricos desempenhassem o papel de zeladores das fortunas, guardar seu dinheiro, e o dos fundos destinados à caridade, em confiança, para o restante da sociedade

Ashley e colaboradores (2005) apresentam a dualidade entre a responsabilidade social para a sociedade e acionistas(parte dela) com base no julgamento histórico de Henry Ford e acionistas minoritários que deixou de distribuir parte dos dividendos para alocar na empresa e funcionários, do qual a Suprema Corte de Michigan foi favorável aos acionistas minoritários,

Bowen (1957) sugere que os responsáveis por uma empresa são curadores não apenas dos acionistas ou proprietários mas também dos empregados, fornecedores, consumidores, comunidade vizinha e do público em geral tendo o cuidado com as condições de trabalho e a oferta de oportunidades de progresso e desenvolvimento

  • Auditores Sociais: Conjunto independente que faria uma apreciação imparcial das diretrizes e ações da companhia

As boas práticas e sua sistemática divulgação vão forjando os contornos da responsabilidade social, rumo à chamada cidadania corporativa

  • Pessoas
  • Meio ambiente
  • Relações econômicas

7.2.2 Responsabilidade social e cidadania corporativa

Histórico das definições de responsabilidade social

Table 7.1: Histórico responsabilidade social
Autor Período Geração Definição
Friedman 1970 Dos Lucros Atender ao interesse dos acionistas
Carroll 1979 Conceito Responsabilidade social Definição da responsabilidade social em: Legal, econômica, ética e discricional
Porter e Kramer 2006 Pressões sociais Além da maximização dos lucros, há pressões por responsabilidade social
Srour 2008 Balanço social Conjunto de decisões empresariais informadas por meio de um instrumento que agregue os interesses dos stakeholders
  • Terceiro setor: Melo Neto e Fróes (1999) definem como a integração por organizações não governamentais (ONGs), institutos, e outrasentidades sem fins lucrativos

Porter e Kramer (2006) reforçam que a responsabilidade social pode ser uma fonte de inovação, de oportunidades e de vantagem competitiva.

7.2.3 Cidadania corporativa

Melo Neto e Fróes (1999) argumentam que uma empresa cidadã é aquela que aporta recursos financeiros, recursos tecnológicos e horas de trabalho a projetos comunitários de interesse público e, assim, se faz merecedora do respeito, da confiança e da admiração dos seus clientes.

  • Empresa cidadã (Matten e Crane (2005))

    1. Direitos sociais: A corporação como provedora
    2. Direitos civis: A corporação como facilitadora
    3. Direitos políticos: A corporação como canal

7.2.4 Balanço social e indicadores GRI

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), fundado em 1998, disponibiliza um conjunto de protocolos denominado indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis

  • Global Reporting Initiative (GRI)

Organização criada pela ONU que formula um modelo que detalha diretrizes para relato de sustentabilidade, organizado em um modelo composto por dois blocos de conteúdos

  1. Conteúdos-padrão geral: Demandam informações das políticas degestão nas categorias
    1. Estratégia e análise
    2. Perfil organizacional
    3. Aspectos materiais e limites
    4. Engajamento dos stakeholders
    5. Perfil do relatório
    6. Governança
    7. Ética
    8. Integridade
  2. Conteúdos-padrão específicos
  1. Categoria econômica
  2. Categoria ambiental
  3. Categoria social

Oliveira (2013) define dicas que podem minimizar o risco de erros na elaboração de balanços sociais

  • Globalização cooperativa: Melo Neto e Fróes (2002) sugerem uma forma de empreendedorismo social para enfrentar o desemprego, a exclusão social e o empobrecimento

7.2.5 Normas de responsabilidade social

  • ISE BM&FBovespa (Bolsa de Valores de São Paulo): Instituiu o índice de sustentabilidade empresarial (ISE)

    • ISE: índice que mede o retorno total de uma carteira de no máximo 40 empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade
  • Programa Em Boa Companhia (BVS&A): Plataforma de captação de recursos para serem investidos em projetos socioambientais do país

  • SA 8000: Norma técnica de certificação de organizações que atendam a requisitos relativos aos direitos do trabalhador

  • OHSAS 18000: Define os requisitos mínimos que as empresas devem cumprir para evitar riscos em que os trabalhadores estão expostos

  • ISO 26000: Norma didática com conceitos, termos e definições referentes à responsabilidade social

  • Selo Abrinq Amigo da Criança: ONG criada em 1990 que visa promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de criançase adolescentes

7.2.6 Fair trade (comércio justo)

A World Fair Trade Organization (WFTO), criada na Holanda em 2009, busca maior equidade no comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Um de seus princípios de maior expressividade é o pagamento de preço justo no recebimento do produto, além de um bônus que deve beneficiar toda a comunidade

  • stockholders vs stakeholders:
    • Stockholders: Maximização do lucro (Friedman)
    • Stakeholders Interesse de diversos grupos da sociedade no desempenho social e ambiental da empresa

7.2.7 Governança corporativa

De acordo com Machado Filho (2006:80) a governança corporativa trata dos mecanismos externos e internos para o alinhamento de interesses entre os gestores e os acionistas, que desejam maior transparência entre si e os gestores, e equidade entre as partes acionárias, minoritárias e majoritárias.

No Brasil, as diretrizes para a governança corporativa são regidas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), fundado em 1995

O IBGC recomenda, para as organizações, a estrutura mostrada na figura, e estabelece que também sejam observados os seguintes princípios básicos:

  1. Transparência: Disponibilizar aos stakeholders as informações de natureza tangível ou intangível

  2. Equidade: Tratamento justo a todos os sócios e demais stakeholders

  3. Prestação de contas: Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, e assumir integralmente asconsequências de seus atos e omissões

  4. Responsabilidade corporativa: Os agentes de governança devem zelar pela sua sustentabilidade e longevidade

A Lei Sarbanes Oxley (SOx), criada nos EUA prevê duras penalidades para os executivos das empresas, com destaque para o presidente e para o diretor financeiro, imputando a esses a responsabilidadepela condução e fiscalização de controles internos e pelas prestações de contas aos acionistas

No caso do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda e que regula o segmento de empresas de capital aberto, modificou regulamentações e instituiu outras

7.2.8 Gestão da reputação

  • Reputaçao: A reputação é um pilar, em permanente processo de lapidação, que diz respeito à maneira como um produto, uma pessoa ou uma organização é percebido pelos outros

  • Imagem: A imagem não é um conceito em construção. Ela é uma fotografia

Para gerir sua reputação, a organização deve colocar suas ações presentes a serviço da construção de uma imagem futura positiva

Srour (2008) consolidou um conjunto de exigências para que uma empresapossa gerir sua reputação:

  1. Manter fortes laços com ospúblicos de interesse
  2. Adotar padrões internacionais de responsabilidade socioambiental
  3. Monitorar os riscos
  4. Administrar as marcas
  5. Gerenciar as informações sobre os ambientes interno e externo

Patrus-Pena e Castro (2010) destacam 7 dimensões:

  1. Ética
  2. Cultural
  3. Tecnológica
  4. Educativa
  5. Gerencial
  6. Psicológica
  7. Política

Ashley e colaboradores (2005) defendem que a empresa precisa se conhecer para poder definir sua orientação estratégica à responsabilidade social

7.2.9 Desenvolvimento moral da organização

O estágio de desenvolvimento moral da organização determina a qualidadeda relação da empresa com seus públicos de interesse e a forma de aplicação de conceitos tais como:

  • Responsabilidade socioambiental
  • Governança corporativa

Logsdon e Yuthas (2005:48) apresentam as forças influenciadoras do desenvolvimento moral

  • Expectativas da alta administração: Influenciam decisivamente as práticas morais dosdemais gestores e dos empregados

    1. Fatores individuais: Relação de maturidade da administração
    2. Fatores ambientias: Pressão da sociedade e da competição
  • Processos organizacionais: Meios para os dirigentes comunicaremaos empregados suas expectativas sobre resultados esperados e padrões de comportamentos desejados e proibidos

  • Desenvolvimento moral organizacional: Caracterizam os estágios de desenvolvimento moral da organização, que podem ser

    • Pré-convencional: Representa uma organização atuando no mercado apenas visando alcançar seus objetivos imediatos

    • Convencional: As organizações agem por pressão externa e respeitamexigências legais e contratuais

    • Pós-convencional: A organização impregnou-se com um dever moral, de modo que as ideias de ética e responsabilidade social corporativa não são apenas instrumentos para alavancar o lucro da organização

7.3 Sustentabilidade como vantagem competitiva

  • Fundamentos, conceituação e princípios:

Em decorrência dos estudos sobre os impactos ao meio ambiente, em 1972, em Estocolmo, acontecea Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que ficouconhecida como Conferência de Estocolmo

Da conferência a criação do Programa das Naçõe sUnidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e no conceito de desenvolvimento sustentável

Desenvolvimento sustentável: Trata-se múltiplas dimensões a serem buscadas pelo desenvolvimento e compromisso com as gerações presentes e futuras

Dessa reunião, destaca-se a Declaração de Princípios de Estocolmo (ONU, 1972):

  1. Princípio do desenvolvimento ou do desenvolvimento sustentáveL
  2. Princípio da informação e da participação
  3. Princípio do poluidor pagador
  • Objetivos do desenvolvimento sustentável

Tem como objetivos atender a necessidades de forma mais equânime e garantir, no tempo, recursos para as gerações futuras.

  • Colapso da ilha da Páscoa: Estudo de Diamond(2006) sobre a ocupação da ilha de Páscoa, as atividades que se desenvolveram, culminando com o colapso da ilha.

Diamond apontaquatro razões para o colapso dessa população e que devem ser pautados como base para o desenvolvimento sustentável:

  1. O distanciamento entre a ilha e o continente e demais ilhas do Pacífico [Benchmarking - Know-how]
  2. As características naturais presentes na ilha de Páscoa não foram observadas nas demais ilhas do Pacífico
  3. O desmatamento progressivo que ocorreu na ilha
  4. Estrutura Social

Outra análise de Diamond (2006) recai sobre a tomada de decisão, apontando para:

  1. Incapacidade da população e seus dirigentes de anteverem o problema
  2. Percepção de que há mudanças, mas sem identificação do problema
  3. Problema ser percebido, mas sua manutenção não interessar a algum grupo
  4. Não se ter uma solução à vista, apesar de saber do problema
  5. Experiência passada de insucesso na solução do problema

7.3.1 Estágios para a sustentabilidade corporativa

Há seis estágios a percorrer pelas empresas para alcance da sustentabilidade

  1. Controle da poluição
  2. Conformidade Legal
  3. Eco eficiência
  • Sistema de gestão ambiental
  • Produção mais limpas
  1. Gestão de riscos
  • Ações de responsabilidade social
  1. Gestão da reputação
  • Análise do ciclo de vida
  1. Parcerias, inovação, legado social

7.3.2 Triple bottom line

Empresas devem incorporar às suas decisões e ações as dimensões econômica, social e ambiental (Elkington,2012)

Elkington desenvolveu o tripple bottom line, também chamado de dimensões do desenvolvimento sustentável que consiste em um diagrama com as dimensões:

  1. Pilar econômico - Profit: O lucro é o motor para a sobrevivência da empresa e remuneração docapital investido
  2. Pilar ambiental - Planet: Contabilizar a riqueza natural diz respeito aconsiderar os elementos dos ecossistemas (tais como flora, fauna,microrganismos, solo, ar, água e minerais)
  3. Pilar social - People: Questões sociais, éticas e culturais

Com base nas dimensões, há a presença das interseções:

  1. Interseção Econômico-Ambiental: Nessa interseção, Elkington indica aquilo que ocorre com a prática da ecoeficiência
  2. Interseção socioambiental: Essa interseção deve ser vista sob o foco interno das organizações na busca de maior equidade de oportunidades entre gêneros e políticas inclusivas de seus funcionários
  3. Interseção socioeconômica: Analisa o padrão de consumo da sociedade, a equidade de oportunidades e a inclusão social

7.3.3 Múltiplas demandas dos stakeholders

Assim como as dimensões da sustentabilidade têm se incorporado às decisões das empresas, o reconhecimento do poder de influência dos stakeholders tem levado as empresas a identificar e a analisar a demanda desses atores sociais que exercem e sofrem influência sobre suas operações

Identficação e análise das partes interessadas:

  1. Partes interessadas: Nomear os agentes
  2. Demandas: Explicitar a influência que cada stakeholder nomeado exerce ou o que este espera da empresa
  3. Ações: Indicar as providências que serão tomadas e as documentações

7.3.4 Retorno intangível e gerenciamento do risco corporativo

Ruschel define retorno intangível como algo que não podemos tocar, como credibilidade, confiança, honestidade e reputação, que vem sendo valorizados pelos stakeholders e, na medida em que são percebidos por estes e mensuráveis, se materializam, por exemplo, com investimento e valor maior da ação no mercado

A gestão de riscos tornou-se uma ferramenta de gestão para evitar que eventos dessa natureza tomem grandes proporções. Ter consciência dos riscos, preveni-los e saber o que fazer minimiza os danos e, consequentemente, os custos com reparação, indenizações, desgaste da imagem da empresa e perda de seu valor

O gerenciamento de riscos busca-se identificar os eventos de risco,estimar sua probabilidade de ocorrência, avaliar seus efeitos, tomar medidas edeterminar ações caso ocorram

7.3.4.1 Classificação de riscos

Para fins de identificação e classificação de riscos, entre inúmeros critérios alternativos, o IBGC (2007:18) propõe uma categorização segundo a origem, natureza etipo:

Os eventos de risco identificados podem ser analisados conforme quadro:

  1. A coluna Análise é fruto do cruzamento dos pontos atribuídos à probabilidade e ao impacto resultando em risco baixo, médio e alto.
  2. A prioridade trata-se do ordenamento da análise
  3. A ação deve ser priorizada pelo resultante da prioridade

O IBGC (2007) sinaliza quatro formas de tratamento para os riscos:

  1. Evitar o risco, optando-se por não se envolver
  2. Aceitar o risco, tendo como alternativas reter o risco no nível, reduzir ou minimizar
  3. Prevenir e reduzir os riscos e os danos, através de medidas que virão diminuir a probabilidade de ocorrência e contingenciamentos
  4. Capacitar a organização para identificar os riscos, antecipá-los,mensurá-los, monitorá-los e mitigá-lo

7.3.5 Modelos de avaliação de sustentabilidade

Há inúmeros relatórios que as empresaspodem apresentar para comunicar as ações à sociedade, por exemplo:

  1. Balanço social
  2. Indicadores Ethos
  3. Global Reporting Initiative (GRI)
  4. Índice de sustentabilidade empresarial (ISE)
  5. ISO 26000
  6. The International Framework do Relato Integrado (RI)

Mas não é somente no âmbito empresarial que novos indicadores e índicesforam desenvolvidos e passaram a ser divulgados:

  1. Produto interno bruto (PIB): Soma de todos os bens e serviços produzidos em uma área geográfica em um determinado período

  2. Índice de desnenvolvimento humano (IDH): Congrega o PIB per capita duas dimensões sociais:

  • Longevidade
  • Educação
  1. Indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS): 62 indicadore sagrupados em quatro dimensões de sustentabilidade
  • Ambiental
  • Social
  • Econômico
  • Institucional
  1. Índice de felicidade interna bruta (FIB): Mensura nove dimensões que correspondem a:
  • Bem-estar psicológico
  • Uso do tempo
  • Vitalidade da comunidade
  • Diversidade cultural
  • Saúde
  • Educação
  • Diversidade e resiliência ecológica
  • Padrão de vida
  • Boa governança
  1. Inclusive wealth index (IWI): Integra variáveis relativas aos capitais econômico, social e natural com a taxa de crescimento demográfico, numa perspectiva de longo prazo.

7.4 Bibliografia